A era FAST…Millennials e Burnout (4)
- jpp
- 25 de jan. de 2019
- 3 min de leitura

NOTA PRÉVIA
Ao debruçar-me sobre as questões dos millennials e do Burnout, as reflexões que apresento jamais podem ser interpretadas como colocando em causa a evolução social e tecnológica, até porque tal seria uma falta de honestidade intelectual. Os pontos que merecem a minha atenção, são fundamentalmente o levantamento de problemáticas para que na utilização de tudo o que hoje dispomos, o possamos fazer da forma mais adequada.
FAST passou a ser também uma das palavras chave dos millennials, tudo deve decorrer rápido. A palavra “ação” passou a ser a expressão do dia, mas facilmente transformada em Reação, porque começou a ser escasso o tempo de preparação para agir e muito mais escassa a disponibilidade para a sustentabilidade do conhecimento e construção de plano.
A volatilidade das coisas, ideias e de formas de ser, é também uma constatação, até porque a geração millennium é temporalmente sobreposta a uma era de grandes e rápidas evoluções e transformações, quer sociais, quer de formas e meios de trabalho, quer de maneira de ser e estar a todos os níveis que envolvem as pessoas.
Permito-me neste momento, e considerando do que que muito nos traz esta noção de “fast”, a sua integração com a palavra do ano de 2016, a “pós-verdade”. Aqui vemos traduzido um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais, sendo ainda sustentada esta ideia com a relevância ao longo desta ultima década da palavra “procrastinação”, traduzindo o diferimento ou adiamento de uma ação.
Para a pessoa que está a procrastinar, isso resulta em stress, sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros, por não cumprir com as suas responsabilidades e compromissos. Embora a procrastinação seja considerada normal, torna-se um problema quando impede o funcionamento normal das ações, e bem assim, por mero acaso ou não, em 2013/2014, o aparecimento dos “inconseguimentos frustracionais”, que acabam por sustentar de forma transversal as expressões que lhe sucedem.
A questão nuclear é a de como não procrastinar, se ao fazermos algo, corremos um sério risco de estar já a fazer o que não é, e a concepção dos millennials, transmitida educacionalmente pela geração que lhes antecedeu, é a da necessidade de um projeto, sendo que este se sustenta em noções, inicialmente, “fechadas”, e muito pouco no risco, o que agora já se não verifica, e o dito sucesso, seja lá isso o que for, está na forma como se gere o risco e na capacidade de entender que muito frequentemente não se irá cumprir o projeto desenhado inicialmente.
Tais fatos são tão evidentes quanto mais constatamos a alteração das premissas que levaram, ou supostamente terão levado, à ação. Introduziu-se assim, uma variável, que sabemos indutora de elevados índices de stress e de uma necessária preparação para lidar com o imprevisto e consequente improviso, que não estão cabalmente introduzidos nos modelos em que esta geração se sustentou.
Assumindo relevância a capacidade para aquilo que até pode ser um paradoxo, mas que me permito referir como o saber viver com a duvida enquanto sustentáculo do progresso pessoal e social, mas de forma organizada e estruturada, numa postura de projeto pessoal.
Para ser mais “fast”, sai uma app, substitui-se o correio e até já o email pelos sistemas de mensagens SMS, WhtsApp ou outro equivalente. Para ser mais “fast” sai uma reunião Skype, e substitui-se maioritariamente a presença pela noção da virtualidade. para ser mais “fast”, e ficando com a noção de uma maior eficiência, frequentemente enganosa, claro, anda-se sempre pendurado num qualquer sistema de comunicação, parecendo muitas vezes que é o ser humano o elemento propriedade desses sistemas e não o seu contrário. Efim, foi a estas mudanças que os millennials tiveram de se adaptar, sem que tenham tido oportunidade de passar por um tempo de maturação social que lhes permitisse sequer planear um eventual equilíbrio.
Gera-se, com todos os mecanismos colocados em ação, menores verdadeiros sentimentos de comunidade, maiores sensações de não salvaguarda de espaços pessoais / familiares e de trabalho, aumenta-se a sensação de incomodo provocado pelo envolvimento e assim a redução cada vez mais pronunciada do sentimento de recompensa e aumento de gasto de energia, até porque em todo este processo, e muito por causa da dificuldade sentida em saborear a vida, em conseguir pelos sentidos sustentar o prazer de ser e viver, se acaba também por desenvolver uma quase impossibilidade, ou pelo menos uma maior sustentabilidade, de cada um perceber o seu porquê, entender o seu objetivos e sentido de vida, organizando-se numa perspetiva temporal relativamente curta e onde olhando para trás, muito frequentemente a congruência é algo que fica complicado de encontrar.
A questão que fica, é a de qual o objetivo do objetivo, mas esta virá na 5ª parte desta reflexão, até porque os 3 min médios para leitura do texto, já deve estar no limite.
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