A quem possa interessar... Millennials e Burnout (1)
- jpp
- 22 de jan. de 2019
- 3 min de leitura

-Alguma contextualização-
Quando nos referimos a Millennials, estamos-nos a incidir naqueles que, e não entrando em discussões sociológicas, têm hoje idades entre 18 e 40 anos.
Falamos daqueles que nasceram na era do desenvolvimento profundo dos novos meios de comunicação, (re)organização, ou pelo menos suposta (des)organização cultural do mundo do trabalho, e do mundo académico, entre outras condicionantes, tal como as ultimas crises sociais e financeiras que obrigatoriamente impulsionaram um enorme conjunto de "novas" ideias, conceitos e fundamentalismos.
Falamos de uma geração que sendo empurrada para uma mudança, sem que tivessem quem pudesse sequer apoiar nas duvidas, a não ser com mais duvidas ainda, e o que encontraram foi um conjunto de supostos "sabe tudo" e "sabe de tudo", que numa ginástica mental muitas vezes incompreensível, lhes venderam ideias, ilusões e crenças que os levaram a olharem-se como os únicos responsáveis pelo seu próprio sucesso, e consequentemente pelo menor sucesso.
Estamos nas décadas dos manuais de auto-ajuda, dos discursos motivacionais transformados em espetáculos muitas vezes ridículos de culpabilização, e que incutiu nessa geração, a ideia de não ser importante o objetivo, mas sim o caminho.
Históricamente, todas as gerações tiveram os seus momentos marcantes, que socialmente lançaram novos desafios, uns passaram pela grande depressão e guerra, outros pelo nascimento e implementação do capitalismo, e outros ainda por uma desregulação imensa do sistema económico. Os millennials tiveram também situações de crise financeira, que no limite os levou a constatar que as "promessas" feitas não se iriam realizar, tiveram a vida nas mãos, mas sem manual de instruções, e com imensos inputs de que a forma de lidar com a realidade não seria encontrada em modelos passados.
Por todo o processo que foi sendo passado aos millennials, desde a responsabilização pela sua atitude de otimismo, mesmo quando a circunstância parecia e parece ser o seu oposto, passando pela quase obrigatoriedade de felicidade, ser a diferença, só não se sentir realizado se não o pretender, até porque está nas suas mãos essa capacidade, mas fundamentalmente porque tudo isto lhes foi imposto por quem não sabia mais o que fazer e lidava com o vazio, facilmente compreendemos o esgotamento emocional, uma realização profissional com profundas inconstâncias, e no fim, por forma a sobreviver, o assumir uma atitude muito pouco transparente e concordante com as emoções.
Somos o que nos fazemos com as ferramentas que vamos adquirindo, e neste caso o crescimento de sensação de sobrecarga, control muito limitado, conflitos entre valores pessoais / organizacionais / sociais, sentimento de baixa recompensa e falta do sentimento de comunidade no âmbito de trabalho, explicam, ou pelo menos ajudam a explicar, o que motivou este texto.
Por alguma razão, e acredito que não seja por preguiça ou por qualquer circunstância de interesse, estamos perante a geração que mais tarde sai de casa dos pais, a geração que mais regressa, aqueles que mais dependem dos progenitores, os que foram habituados a que a constatação de dados poderia levar a algo, mesmo sem que nada fosse feito, porque era e infelizmente ainda é, assim que os "crescidos" teimavam fazer, constatar e acomodar.
Vendem-se sonhos, por alguém sonhados e supostamente transformados no sonho de todos. Um dia chega a hora que se apercebem do fato de aquele não ser o seu sonho e a inconstância e incongruência teimam em ficar cada vez mais solidificadas. Mas falamos de sonhos de vida, de trabalho, de cultura e no fim do pesadelo do vazio.
É na forma como respondem à exaustão emocional, que os Millennials se distinguem das outras gerações. Quando se sentem emocionalmente exaustos, os millennials demostram maiores indices de insatisfação e de turnover. Ainda associado à questão do desequilíbrio emocional dos millennials, encontramos os fatores estressores ambientais e os elevados índices de expetativas que têm e que sobre eles são colocadas, que os levam a um desgaste das suas capacidades de resiliência e consequentemente à maior exposição risco.
Os controladores de tráfego aéreo e os millenialos, estão sujeitos a estressores semelhantes, o que nos transporta e deixa desde já num cenário de elevada exigência mas sem controlo.
Percebe-se porque a geração millennium é também a geração burnout?
(Voltarei para a parte 2)
Kommentarer