Manuais para tudo…. Millennials e Burnout (2)
- jpp
- 23 de jan. de 2019
- 3 min de leitura

Inicio a segunda parte desta viagem pelas emoções dos millennials, com a reconstrução da pergunta que deixei na 1ª - “Começa-se a perceber porque a geração millennium é também a geração burnout?”
O que verdadeiramente temos:
uma geração que entrou num vazio convencionaluma geração que mesmo procurando, dificilmente teve um “GPS”, ou tão somente um guia, tipo “Guia Michelin” que lhe permitisse perceber e integrar o contexto onde estava e aquilo que era a imagem que lhe haviam ajudado construir.
Uns, fizeram um percurso formativo que lhes atribui um grau de licenciado/a, e o sonho de começar a trabalhar naquilo que caraterizam a sua área. Esqueceram, ou nunca ninguém lhes disse, que uma licenciatura era uma licença para começar a construir-se profissionalmente, e os caminhos poderiam ser vários. Talvez por isto mesmo, muito frequentemente, esta geração seja acusada de não ter objetivos de vida, mas seria suposto terem?
Outros, adiando a inevitável entrada no mercado de trabalho, mas sempre com o sonho de estar a construir o caminho para a sua área, sequenciaram a formação superior com outras formações, sejam elas cursos específicos, de especialização, mestrados, doutoramentos, mas usualmente feitos, ou pelo menos iniciados, sem que tenha ocorrido contato com o verdadeiro mercado de trabalho.
Muitos, mais do que o que seria desejável, foram decidindo ficar pelo caminho na sua formação específica e por qualquer que seja o motivo, todos válidos, decidem iniciar a sua vida de trabalho.
Perante uma realidade inquestionável, assistimos ao surgimento e consumo de manuais para tudo, provenientes de pessoas que acham que sabem e conseguem dar conselhos e formatar os outros. São os manuais sobre felicidade e como ser feliz, seja na vida pessoal, seja na vida de trabalho, manuais sobre como comunicar em público nos diferentes contextos, manuais para formatação de apresentações em audio-visuais, manuais que se permitem constatar as implicações de comportamentos nos comportamentos dos outros, como se as pessoas fossem robots e tal fosse possível, manuais sobre como motivar-se e motivar os outros, e muito mais que seria fastidioso estar aqui a enumerar todos, mas acho que ficou a ideia global. Imaginem que até se fazem manuais para pensar fora da caixa…. Absurdo, não?
Evidentemente que seria suposto que os manuais ajudassem na construção de competências cada vez mais fortes, no entanto, e quando tal não acontece, o que inúmeras vezes, é porque a ideia que passa é a de que o assumir determinadas atitudes e/ou comportamentos, trazem diretamente consigo uma resposta de quem está conosco. Esqueceram, propositadamente ou não, os autores deste tipo de materiais, que já la vai muito tempo que Pavlov foi criticado e assumido que a sua teoria de estimulo - resposta era incompleta, esquecendo ainda que os modelos deterministas e as posturas Tayloristas e Fordistas, bem como as teorias de Maslow, haviam já sido motivo de evolução. Mas afinal foram só mesmo “esquecimentos”…..
Foi a partir destes “esquecimentos” que a contaminação por uma certa ideia de que criar um boneco de acordo com as instruções, seria o ideal para que tudo funcionasse, mas afinal…. chegou, como chega sempre, o dia em que passamos ao pé de um espelho e verdadeiramente nos vemos. Esse olharmo-nos transporta-nos para o tal vazio, o precipício e sem que consigamos perceber que conseguimos dar o “salto de fé”, até porque não temos instruções.
Foram ainda estes manuais que determinaram alguns critérios de avaliação e de forma para olhar o mundo, tomando como padrão o que seria uma suposta normalidade e se essa normalidade, mesmo que construída de forma enviesada, não fosse cumprida, surgiria de novo a necessidade de mais uma (re)formatação, apelativamente chamada de “Professional” ou “Specialized” ou ainda “Versão 2.0” ou mais.
É que não foram só os manuais, mas o que eles trouxeram, uma oferta formativa necessária para lhes dar contexto, e fundamentalmente sob um chapéu de coisas integradas nas soft skills, que afinal a esta altura já não são mais soft, mas sim hard, sendo que a preparação das pessoas para as suas exigências, se manifesta ainda longe de estar consolidada. No entanto, atenção, eventualmente não faz sentido continuar a chamar-lhes “soft”.
Cá estamos de novo naquilo que se falou na 1ª abordagem a este tema, a incongruência entre o que sou, o que quero verdadeiramente ser, o que tenho de ser, o que espero do meu investimento em ser o que não sou e a forma como tudo isto me recompensa e traz prazer, e qual o prazer.
Depois, bem depois vem a questão da imagem, mais uma das várias condicionantes em todo este processo de burlou, mas isso fica para a próxima…..
(Voltarei para a parte 3)
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