top of page

A importância de saber ser infeliz

  • Foto do escritor: JPP
    JPP
  • 2 de ago. de 2018
  • 3 min de leitura

ree

Para iniciar uma pequena reflexão sobre a importância de saber ser infeliz, sinto necessidade de recorrer a alguns pensadores que me permitam integrar a ideia central. Deste modo, nada melhor do que lembrar Dostoievski, e o seu pensamento em que refere que"...É melhor ser infeliz, mas estar inteirado disso, do que ser feliz e viver como um idiota....". Esta noção é precisamente a central daquilo que é o meu objetivo com este texto, nós sabemos que a nossa existência tem pelo menos os dois polos, o da felicidade e o da infelicidade, e depois um terceiro, o da mentira socialmente desejável, que cria o "cinzento", aquele "... podia ser bem pior ...", o "... lá no fundo ...", entre outros.


Não é de todo o dizer ou assumir que nós só conseguimos ser felizes em confronto com a infelicidade, nem vice versa, mas sim dizer que os dois polos fazem parte da nossa vida e com eles devemos saber viver, sem lhes retirar a elevada importância que cada um tem no nosso desenvolvimento e na nossa existência.


Porque estado muito longe da perfeição, e permito-me dizer que ainda bem, seria extremamente "chato" ser perfeito, tal como refere Jean Massilon, "...A origem dos nossos desgostos encontra-se quase sempre nos nossos erros...." e por isso mesmo a imensa vulnerabilidade a nos desgostarmos conosco, e desiludirmo-nos-nos, já que é extremamente difícil fazer o que refere Schopenhauer "... Reduzir ao máximo as expectativas em relação aos nossos meios, sejam eles quais forem, é, pois, o caminho mais seguro para escaparmos de uma grande infelicidade...."


Viver feliz com as nossas infelicidades em conjunto com as nossas felicidades, parece ser o caminho para vivermos na plenitude de nós, já que, e como refere Rchefoucauld "...Nunca somos tão infelizes como supomos, nem tão felizes como havíamos esperado. ...", mas sabemos que a presença da primeira, ofusca a segunda e frequentemente nos leva a fazer uma fuga e falsamente centrarão-nos nos mitos, mais ou menos urbanos, da felicidade e seguir receitas para ser feliz, que muitos infelizes nos passam, quer seja por escrito ou por coisas ditas inspiradoras.


Saber ser infeliz, conseguir ter a infelicidade como parte integrante da felicidade, não só é uma necessidade, como um direito, para quem não quer entrar em situações de vazio de sentido. No entanto, talvez o melhor seja mesmo olhar ao que diz Bernard Shaw "...O segredo para ser infeliz é ter tempo livre para se preocupar se se é feliz ou não. ..." e ser mais, pensando menos.


Olharmos para o passado, e no presente escolhermos ver nele maioritariamente focos de felicidade, vem dar razão a Boécio, quando nos refere que "...Em toda a adversidade do destino, a condição que gera mais infelicidade é o facto de se ter sido feliz. ...", mas temos realmente uma fatídica tendência para lastimarmos no presente, o não estarmos naquilo que era bom no passado.


Edward Bono deixa-nos um enorme desafio quando diz que "...A infelicidade tem a sua melhor definição na diferença entre as nossas capacidades e as nossas expectativas. ...". Perspetivarmo-nos tem obrigatoriamente de ser um processo realista que joga com as possibilidades, que são imensas, mas condicionadas pelas nossas competências. Fazermos planos pessoais, jamais é desenhar situações infalíveis, mas sim uma probabilidade de podermos controlar os riscos e minimizar o impacto, mas certos que nada jamais correrá como planeado.


"...Cada um é tão infeliz quanto acredita sê-lo. ..." (Seneca)


Não esqueçamos Alberto Caeiro "...É preciso ser de vez em quando infeliz/ Para se poder ser natural......" e Por mim, deixo a expressão "Cohabite-se"

Comments


bottom of page