Um homem é conhecido pelo silêncio que guarda
- JPP
- 26 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

Muitas são as coisas que podemos dizer, menos são as que conseguem ser percebidas de forma concreta por quem nos ouve. Talvez um doa maiores ensinamentos das nossas vidas, seja mesmo o de saber estar no silêncio sobre aquilo que realmente fala de nós, e deixar que quem nos conhece nos entenda através dele.
Jamais diremos tudo o que queremos, e nunca o diremos da maneira como traduza realmente o que queremos dizer. Do fantástico de nos expormos à interpretação dos outros, e de nela termos acesso à sua forma de ser e estar, o movimento introspectivo das nossas interpretações e revelações é o que nos faz e diz de nós o que somos.
Precisamos ouvir, precisamos regular o ruído da incerteza que sentimos num silêncio, mas enganado-nos a pensar que este desaparece na verbalização. Um dia, e num batizado em que estive, ouvi um padre referir que "a primeira coisa que fazemos é ensinar as crianças a mentir". Achando desde sempre que esta é uma verdade irrefutável, esperei a sua interpretação sobre o que pretendia dizer com tal afirmação. Justificou-a dizendo que o processo educativo é o tirar da sinceridade da relação, através daquilo que podemos chamar, e que apresentei como conceito em 2007, a verdade suportável, ou o que se costuma chamar de mentira piedosa.
Podemos utilizar toda e qualquer estratégia na relação com o outro, e até mesmo conosco, mas jamais conseguiremos, e de forma sustentada, fazê-lo internamente e a nossa competência de vivermos com o(s) nosso(s) silencio(s), o que é frequentemente difícil, e vivermos o silêncio dos outros, mostra o quanto somos capazes de nos vivermos e de admitirmos todos os que nos rodeiam.
Porque jamais dizemos, ou deveremos dizer, tudo o que pensamos e o que somos, o nosso silêncio é a nossa essência, o nosso verdadeiro "EU".
Ninguém disse que era fácil vivermos-nos e viver, pois não?
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