E quando a morte morre.
- JPP
- 1 de mar. de 2018
- 2 min de leitura

A morte morre, quando morre o portador do seu pensamento.
A morte morre, decada vez que alguém morre.
Morre a morte de cada um, no pensamento de todos os que com ele têm memória.
Morre a morte, quando fica aquilo a que ela jamais conseguirá chegar, as imagens criadas de e sobre quem morreu.
Jamais conseguiremos pensar a nossa morte, ele é um pensamento vazio de conteúdo, porque o pensamos na sequência do que sentimos, assistimos e da cultura em que estamos inseridos, mas jamais sobre a nossa própria morte. Efetivamente pensamos o morrer, esse fantasmagórico processo, apresentado por Edgar Morin e Philipe Ariès como sendo "la mor aprovisè".
Pensamos a nossa morte pelas perdas que sentimos sobre outros.
Pensamos a nossa morte, pelo catastrofismo em que tendemos a cair, de cada vez que alguém que faz parte do nosso mundo afetivo, morre.
Pensamos a nossa morte, pela dor da perda.
Pensamos a nossa morte, pelo sofrimento egoista de já não podermos mais ter fisicamente perto de nós, quem nós queremos e quando queremos.
Enfim, pensamos a nossa morte, de cada vez que somos obrigados a reorganizar o nosso mundo, e a forma como ele se nos apresenta.
Em conclusão, jamais pensamos a morte, mas sim o morrer, ou seja, o continuar a viver, mas cada vez mais com menos algumas partes importantes de nós.
Pensamos a morte, enquanto conceito, numa óptica cultural e fundamentalmente egoista, porque a pensamos por nós e em nós, mesmo que argumentos pseudo-altruístas sejam encontrados.
Em cada dia, era, minuto, segundo,... morremos e nascemos, mas lidar com a perda e com o sentimento de já não poder estar, fazer ou ser com, isso é bem mais complicado e por isso mesmo nos vamos morrendo.
Da morte se nasce, por causa da morte se renasce, e o unico continuo existente é efetivamente a memória que devemos fazer perdurar.
Morrer-se, nascer-se, reinventar-se, são realidades inerentes a existir e a ser.
Ja se renasceu hoje?
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