Olha-te simples e deixa-te de diagnósticos
- JPP
- 24 de jan. de 2018
- 2 min de leitura

Há nos dias de hoje uma extrema obsessão por diagnósticos, por colocar rótulos e constatar aquela que é sentida como uma segurança por transmitir algo mensurável e conceptualizado.
A evolução da ciência, acompanhada pela massificação da comunicação e acesso à informação, foi ao longo dos tempos permitindo que cada um, independentemente da sua preparação prévia, possa sentir-se e atribuir-se um conjunto de circunstâncias que muito frequentemente vão extrapolar o real, mas que deixam uma sensação de (in)segurança naquilo que é o que realmente se sente, se fosse efectivamente sentido e não mascarado com um qualquer critério de diagnóstico que muitas vezes só serve para encontrar uma desculpabilização para enfrentar o que é efectivo e real.
Evidentemente que se conhecem sinais e sintomas na esmagadora maioria das situações, no entanto, e como tudo na vida, há sinais que se confundem, situações com impactos diferentes em cada um, e no limite a assunção daquilo que é a “normalidade” estatística, uma representação que ajuda a orientar um pensamento para olhar uma situação ou circunstância especifica.
Sermos estatísticos de nós, sermos analíticos dos nossos sentimentos, é uma circunstância que nos pode efectivamente transportar e fazer viver naquela que é a verdadeira essência básica da estatística na circunstância prévia à necessária análise subsequente – “A estatística está para a nossa vida como o poste para o bêbado, mais para apoio do que para iluminação”.
A confrontação com critérios diagnóstico, aprendidos e constatados num qualquer manual, num qualquer livro ou consulta de informação, mesmo que especializada, está, ao contrário daquilo que seria suposto, a provocar atitudes de redenção e muito pouco de desafio. Este desenvolvimento de uma atitude de constatação e submissão, em muito provocada por um tal argumento de um suposto “é normal”, leva-nos a focalizações cíclicas sobre o mesmo, pensando continuamente sobre o que pensamos saber que se está a passar, e sustentados por um qualquer critério, aceitar viver sob estas pressões que muito frequentemente em muito pouco são interpretáveis na dita “normalidade” circunstancial.
O papel de dualidade do critério diagnóstico, transporta consigo a ideia de carimbo, classificador, mas como em todos os carimbos há a necessidade de uma almofada, local que detém a tinta que lhe permite deixar a sua marca, e de forma quase inexplicável, ou não, vemos com alguma frequência os “fabricadores” de carimbos a quererem directa ou indirectamente ser a almofada e fazer depender de si as tintas e as impressões que cada um deve colocar nas suas vidas.
O diagnóstico é o inicio de algo, não o fim. Por isso mesmo, e pelo que podemos observar daquilo que a história nos dá, a sua utilização tem sido muito enviesada e aquém daquilo que pode efectivamente ser. Talvez por isso se vá observando o aparecimento cada vez maior de um conjunto de formulas e menus de como fazer para se ser, descuidando de maneira muito pouco ortodoxa toda a especificidade de cada um, e assim, perante a dificuldade de conseguir, a introdução de um ainda maior sentimento de incapacidade e o alimentar do ciclo de mal estar e (in)capacidade.
Não fiquemos pelo rótulo, vamos lá ver da qualidade do produto.
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