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Talvez seja da nossa paciência, ou falta dela…

  • Foto do escritor: JPP
    JPP
  • 17 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

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Evidentemente que a situação que vivemos neste ano de 2020 não é natural, de acordo com os padrões que havíamos colocado para aquilo que seria a nossa vida em pleno Século XXI e com o desenvolvimento das ciências médicas a que temos assistido.


Habituámos-nos a ter respostas rápidas, caminhámos e construímos um caminho de “Fast Lane”, dotámos-nos de meios, que utilizámos de forma pouco metódica até Março de 2020, fomos obrigados a incorporá-los no nosso dia a dia numa estratégia como de um castigo se tratasse, e como deixámos passar muito tempo desde a sua criação e possibilidade de implementação, acabámos por ser obrigados a usá-los sem nos termos preparado na forma talvez mais relevante para o contexto, a organização emocional.


Porque não se trata de uma questão sobre a qual se possa imputar a responsabilidade directa a ninguém, nem mesmo aos Chineses de Wuhan, até porque há quase a certeza de tal vírus ter surgido por questões culturais e a sua disseminação por questões da liberdade de deslocação das pessoas, urgentemente surgiu a necessidade de CULPAR alguém para esta situação onde ninguém se sente como responsável.


Passou a época da CULPA pelo aparecimento do vírus, para uma época de imputação de responsabilidades de quem supostamente teria responsabilidade de o conter, o que perante a dificuldade de perceber quem era, e que havia uma implicação direta de todos, passamos a culparmo-nos uns aos outros e a todos em geral.


Hoje culpamos o vírus por tudo, seja por não conseguirmos aguentar mais em casa, seja por ser complicado trazer a tecnologia e colocá-la ao serviço do nosso bem estar, seja porque achamos que temos direitos e descuramos muitas vezes os deveres, seja pelo que for. No vazio de responsabilidade, e a favor de proteção da nossa integridade, tendemos a procurar fora quem possamos CULPAR.


Pois é, a culpa não é de ninguém em particular, mas de todos em geral, esta é daquelas situações para as quais NINGUEM está preparado, é uma circunstância que provoca a verdadeira mudança da nossa vida e a constatação com muitos dos nossos fantasmas e criações idílicas que temos vindo a fazer ao longo dois anos, tal como aquela que nos levava a pensar que não havia nada melhor que a nossa casa (afinal há, mas depende da situação)


O risco é global, uns mais expostos, outros menos, uns mais sensíveis, outros menos, mas é global. As nossas atitudes, sejam elas quais forem, mesmo as mais estranhas, acabam por ser perfeitamente compreensíveis, já que o que estamos a atravessar é a junção de uma pandemia provocada por um vírus e uma outra que se lhe associa, provocada pelas emoções e a discussão do modelo social e de praticamente tudo o que tínhamos como certo.


A prevenção está mais ligada à resposta emocional de cada um, e à forma mais ou menos assustadora, histérica e/ou fundamentalista como encaramos a situação. Começámos por dizer “vai ficar tudo bem”, depressa nos cansámos desta expressão porque não conseguimos ver o fim, e muitas das luzes que podem aparecer ao fundo do túnel mostram-se como imperceptíveis sobre a distância a que estão. Estamos numa crise de saúde pública e de expectativa, substituindo assim o “vai ficar tudo bem” pelo “vamos conseguir ultrapassar isto”. Mesmo assim não está fácil, continuando sem CULPADOS objetivos, e tendo de assumir a nossa quota parte da responsabilidade e convenientemente de forma construtiva e não desestruturadora, teremos de encontrar o equilíbrio emocional para uma situação de incerteza e sem data para terminar.


Temos algumas boias que parece que nos vêm salvar, mas quando as agarramos, parece que facilmente constatamos que estão com pouco ar, e por isso mesmo não têm, e eventualmente nem devem ter, o poder de nos manter muito tempo agarrados a elas. São fundamentalmente situações que de forma muito positiva muitos usam como “fase de descanso” para ganhar fôlego na próxima etapa.


Aceiar-se-ia e aceitar-se-à muito bem esta situação, desde que seja o real descanso e não o auto engano, a esperança e expectativa que rapidamente se vaza e nos falta a deixar no vazio.


Não tenhamos duvida, a maioria de nós vai ultrapassar tudo isto, mas nada vai ficar bem quando avaliado pormodelos anteriores, vamos ter mesmo de nos reconstruirmos, e essa é uma tarefa GLOBAL.


Talvez neste momento seja mesmo uma questão de falta de paciência.

 
 
 

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