E quando olhas para trás, Será que fizeste as pazes contigo?
- JPP
- 15 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
(Pensamentos, eventualmente sem sentido)

Sabemos bem que o nosso passado nos serve para que nos consigamos entender no presente e estejamos preparados para planear o futuro. Algumas vezes não conseguimos fazer todo este processo, que nunca ninguém disse que era fácil, fica muito menos complexo em escrita do que na realidade, com a clarividência, calma e racionalidade que ele exige.
Em determinadas alturas, seja porque o nosso passado ocupa demasiado do nosso presente, seja porque o simples facto de olhar em frente nos encandeia e retira definição ao que poderíamos e/ou deveríamos conseguir ver, vermo-nos na nossa história e na nossa construção faz sobressair a dor e posteriormente o sofrimento que, sabendo nós estarem associados ao crescimento, se pretendem diluídos naquele que conseguimos frequentemente ver como a concretização do nosso propósito.
Finalmente começamos a colocar a questão central, “o porquê”, o nosso porquê, e porque muito andámos preocupados com “o como” e com o “o quê”, abrimos a porta à discussão da nossa essência, e eventualmente é esta centralidade que nos transporta para algo bem mais incómodo e desde logo a expor as nossas feridas, a transportar-nos a sobre elas pensarmos, a mexer nelas e no fim a sermos facilitadores ao eventual aparecimento das outras questões existenciais do hoje perguntarmos o para quê termos no passado feito algo.
São, talvez, estes sobressaltos da vida, estes questionamentos sobre a essência, estes caminhos, mais ou menos sinuosos, dependendo do nosso contexto no momento em que nos pensamos de forma mais profunda, que podem conduzir às fundamentais e estruturais epifanias e nos vêm exigir a profunda capacidade de reinvenção interna.
Diria Simone Beuvoir que “(...) a dor é fundamental e o sofrimento opcional (...)”. A primeira dá-nos o sentimento da corporalidade, a perceção de uma existência física. A segunda já nos transporta para algo mais global, mais centrado na focalização que fazemos, e intimamente dependente da nossa insistência em pensarmos a dor e o seu porquê. É neste mecanismo de pensamento, que é nuclear para que nos consigamos perceber, e lembrando Sigmund Freud quando refere que “(...) a dor sem sentido é intolerável (...)”, que somos também transportados para a ideia de Viktor Frankl sobre cada um de nós ter os seus campos de concentração, e assim percebermos como não é fácil entendermo-nos através das nossas maiores ou menores incongruências na nossa história.
Pois, é um pouco tudo isto, é eventualmente o muito de nós fora da capacidade de efetivamente o entendermos no nosso presente, que de alguma forma nos dificulta vermo-nos em perspetiva, que atropela o que muitos enquadram como bem-estar. Talvez por isso mesmo, e sabendo que nos devemos pensar sempre, o devemos fazer com muito cuidado, até para que não continuemos a escamotear aquela que pode ser definida como a nossa verdade, e consigamos fazer as pazes de nós para connosco.
Não esqueçamos que também nós temos prazos de validade para a resolução de todas estas questões. Posteriormente a ele, não há "pasteurização" emocional que lhe valha.
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