Raios partam o calendário. Maio tem de vir antes de Abril

Isto de fazermos o nosso 25 de Abril, sem antes termos feito o nosso Maio, o primeiro inspirado no ano de 1974 e o segundo em 1968, não está a funcionar. Esta cronologia demonstra uma luta sem que antes se tenham criado as condições para a conjugação de interesses comuns, de objetivos de luta que fazem realmente cair poderes. Fazer uma revolução baseada no egocentrismo, na incapacidade de sairmos da critica fácil e darmos a cara por razões, refugiarmo-nos na virtuais realidade e no fim não dar realmente a cara, já se viu que não resulta.

Comemoram-se 50 anos de uma revolta que acabou por mexer profundamente num status social, permitindo acender o rastilho, porque efetivamente começou por quem tem força para fazer acontecer e provocar a mudança, os mais jovens a quem se associaram alguns incautos cotas, mas todos com vontade real de fazer acontecer e que não se limitaram à critica de mesa de café, mas sim utilizaram-na como ponto de partida. Sim, nessa altura também havia a sensação que talvez não valesse a pena, mas a força para tentar, foi maior que o comodismo de continuar somente a criticar.

Hoje como ontem, a força está lá, basta que se consiga lutar em mais frentes, e onde só uma é comum com a de 68, a social. As outras, tal como a do comodismo e a do achar que dizer por dizer já basta, são as mais limitadoras para se conseguir realmente mudar.

Ao olhar tudo isto, e acreditando que até se pretende mudar, só me resta mesmo pensar que porque alterar algo dá trabalho, bem menos do que digitar, recorrer aos fundamentalismos sociais, introduzidos como motores do auto-engano, tem sido o porquê da ancoragem, ou até mesmo do estar encalhada a grande mexida que se exige.

Quando uma geração quer mudar, deve acreditar, até porque no contexto social atual é cada vez mais verdade, que outras querem exatamente o mesmo, e portanto o encontrarmos pontos que nos unem, é bem mais importante que enfatizar os que nos separam.

Comecemos em Maio a preparar Abril.