Terá sido Enlightening?
- JPP
- 3 de abr. de 2021
- 4 min de leitura

Do muito que me trouxe esta pandemia
Será inevitável que este ano passado em ambiente de profunda mudança, ou pelo menos de imensa gestão de variáveis que até sendo anteriormente encaradas como portencializadoras do poder de desenvolvimento pessoa, nos tenha trazido de forma evidente e muito confrontativa, o melhor e o menos bom de todos nós.
Em termos pessoais, fomos todos colocados perante circunstâncias que se assumiram ao mesmo tempo ameaçadoras e potencializadoras para a nossa evolução e em contextos que muito dificilmente iriamos conseguir sequer imaginar.
Fomos colocados em descontextualização de organização de vida pessoal e profissional, numa evidente gestão permanente de risco, a partilhar a esmagadora maioria das horas com quem não estávamos habituados a fazê-lo, em contextos que havíamos construído para outros fins e com outros objetivos, numa profunda alteração daquilo que era o status-quo mais evidente e que era produto de décadas de evolução.
De um momento para o outro, vimos as nossas vidas e rotinas alteradas, constatámos a importância profunda de coisas tidas como tão simples como as do café num café, de uma tertulia, até mesmo que cheia de disparates, com amigos, passando para o meio virtual, que mesmo já usando, o fazíamos de forma menos global.
Tivemos um ano para nos irmos adaptando, mas em muitas circunstâncias chegámos à conclusão que o processo de integração pelo qual passámos ao longo das nossas vidas se enraizou de tal forma que agora, e mesmo estando em contextos que sabemos serem positivos, o fato de ser por obrigatoriedade, no leva a os enfrentar com postura defensiva e frequentemente com o nosso pensamento noutros cenários, a ser-nos difícil olhar para o positivo que o “novo” nos traz.
Por tudo e com tudo, até pela forma como contabilizamos as horas de um dia, infelizmente fomos também confrontados com alguns aproveitamentos, nem todos honestos, e isto sem chamar desonestas a pessoas, mas no mínimo menos bem preparadas, quer de empresas, quer de ordens profissionais, quer de pessoas singulares, onde apreciámos a mais profunda descontextualização entre o que se propuseram fazer “de novo”, os serviços que propõem e as suas posições anteriores face às mesmas realidades.
Evidentemente que todos temos o direito de fazer as nossas análises SWOT, de percebermos o mercado, de nos adaptarmos e nos propormos a contribuir com o nosso valor para o melhor que conseguirmos, seja em prol do nosso desenvolvimento pessoal, seja no desenvolvimento social. O que já me coloca alguma reserva é a constatação da forma como muitos manipularam a fraqueza humana e a situação emocional, vendendo soluções para o que em principio sabem ser difícil, para não dizer impossível, aproveitando assim a maior fragilidade, usando e abusando de coisas que se permitiram intitular de motivadoras, potencializadoras do desenvolvimento pessoal e profissional e das competências de adaptação às “novas” situações.
Não fora o seu passado, o conteúdo vazio de muito do que diziam, a forma bizarra como se propunha a colocar em prática o que aparentemente defendiam, o encarar as pessoas como um meio para atingir um fim, o seu fim pessoal, e até poderia passar mais ou imenso despercebido. No entanto tal não sucedeu e o descaramento com que muito foi feito, fundamentalmente nas áreas ditas comportamentais, facilmente se desmanchavam os argumentos apresentados e se podia ver a “seriedade” que envolvia as propostas.
Evidentemente que em situação dita de maior controlo, já vínhamos assistindo a muitas destas incongruências, no entanto a fragilidade emocional não era tão grande, e o que é realmente abjeto é a forma como se constatou o aproveitamento destas situações numa ótica de “vendedores da banha da cobra”, sendo pena que a adesão, ou tão somente sensibilidade das pessoas, tenha estado ofuscada pela imensa sensação de incapacidade e assim estarem predispostas a aderir a uma qualquer solução que se apresentasse como quase milagrosa, qual medicamento para emagrecer mantendo o estilo de vida que levou a engordar.
Sim, engordam sempre os mesmos, os que com muito poucos escrúpulos vendem o seu produto, mesmo sabendo da imensa relatividade e quase inconseguimento da solução que propõem. Ninguém emagrece, a não ser a continuada persistência no estado inicial, o que leva à insistência na eventual cura milagrosa.
Talvez tenha sido o meu momento de epifania, mas se o foi, ele só traduziu a altura em que foi a estocada final naquilo que já era previsível para mim. Foi sem duvida uma altura de descrédito profundo em pessoas sobre as quais ainda pensava terem algum discernimento, foi efetivamente muito positivo.
A experiencia ninguém no tira, a vivência direta muito menos, a reconstrução da confiança vai ser um desafio interessante e imensamente provocador. Serei só eu a sentir isto? Terei sido só eu a ter este enlightening? Não quero saber, eu tive e tenho de agradecer à COVID-19.
Do meu sentimento de responsabilidade, quer por profissionalmente ser o que sou, quer por inerência da minha atividade enquanto formador e parte ativa na sociedade, não estando na minha possibilidade a criação de regras, está nas minhas mãos a opção de trabalhar nos diferentes contextos com quem quero e que ache que reúna as condições mínimas que considero essenciais para não estar a contribuir na criação de charlatões.
Comments